O FENÔMENO DA TRANSFERÊNCIA NA PSICANÁLISE por Psicanalista Marco Barbosa



O FENÔMENO DA TRANSFERÊNCIA

 O conceito de transferência é um dos mais importantes e complexos da psicanálise freudiana. Ele se refere à forma como o paciente projeta no analista sentimentos, desejos e conflitos que se originaram em suas relações passadas, especialmente com as figuras parentais. A transferência pode ser positiva ou negativa, dependendo do tipo de afeto que o paciente atribui ao analista.


Freud começou a desenvolver esse conceito em seus Estudos sobre a histeria (1895), onde observou que alguns pacientes apresentavam uma forte resistência à cura, manifestando uma espécie de amor ou ódio pelo médico. Ele chamou esse fenômeno de "transferência neurótica" e o considerou um obstáculo ao tratamento. No entanto, em seus Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905), ele reconheceu que a transferência era um aspecto normal e universal da vida psíquica, que se baseava na tendência humana de buscar objetos de amor semelhantes aos da infância.


Em seu texto "Dinâmica da transferência" (1912), Freud aprofundou sua compreensão da transferência como um instrumento terapêutico, que permitia ao analista acessar as camadas mais profundas do inconsciente do paciente. Ele distinguiu entre a transferência positiva, que favorecia a aliança terapêutica e a elaboração dos conflitos, e a transferência negativa, que expressava a hostilidade e a resistência do paciente à análise. Ele também introduziu o conceito de "transferência erótica", que se referia à manifestação de desejos sexuais pelo analista, que podiam ser de natureza edípica ou pré-edípica.


Veremos outro texto importante de Freud sobre este conceito, o "Recordar, repetir e elaborar" (1914). Neste texto em questão, Freud ressalta o caráter de repetição presente no fenômeno transferencial, afirmando:


"A transferência é apenas uma forma particular de repetição e o paciente repete em vez de recordar não só suas experiências esquecidas mas também tudo o que se tornou um elemento constituinte de sua doença. (...) O paciente não recorda nada do que esqueceu e reprimiu mas atua-o. Atua-o sem saber naturalmente que está fazendo isso." (Freud, 1914, p. 167)


Freud explica que a repetição na transferência é uma forma de o paciente tentar dominar as situações traumáticas do passado, que ficaram fixadas em seu inconsciente. No entanto, essa repetição não leva à cura, mas sim à perpetuação do sofrimento. Por isso, o papel do analista é ajudar o paciente a transformar a repetição em recordação, ou seja, a trazer à consciência os significados ocultos por trás dos seus comportamentos transferenciais. Assim, o paciente pode elaborar seus conflitos e se libertar das amarras do passado.


A transferência é, portanto, um fenômeno ambivalente na psicanálise: por um lado, é uma fonte de resistência e sofrimento; por outro lado, é uma via de acesso ao inconsciente e à cura. O analista deve saber manejar a transferência com sensibilidade e técnica, para aproveitar seu potencial terapêutico e evitar seus perigos.


Por Psicanalista Marco Barbosa
Psicanalista e Neuropsicanalista Clínico, Self Coach, Professor e Filósofo.
Atendimentos para Transtornos Emocionais, Psicológicos e Comportamentais.
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